Embora este seja um blog de BioBio, começaremos abordando a História da homeopatia, pois ela ajuda a compreender a própria homeopatia, a sua disseminação ao redor do mundo e também desperta a curiosidade sobre suas ações bioquímicas.
Sem a compreensão da cronologia do que aconteceu na ciência, na medicina e na filosofia (Isso mesmo! Na filosofia também!) a confusão homeopática existente vai continuar.
Antes da discussão de qualquer tema polêmico dentro das ciências, como é o caso da homeopatia, é necessário fazer algumas ressalvas:
· É importante estudar e compreender as ideias de cada época;
· Entender, acompanhar, NUNCA super ou subvalorizar raciocínios e estar ciente de suas limitações, absurdos e genialidades, além de compreender o contexto em que foram elaborados;
· Entender que filosofia e ciência são formadas por concatenação de fatos, onde uns retomam onde outros pararam e que é necessário conhecer o contexto daqueles que originaram ideias que desembocaram nos fatos atuais;
· Observar e comentar os fatos com a maior imparcialidade possível, pesando criteriosamente os argumentos de todos os lados de uma discussão;
· Ao defender veementemente sua posição com relação ao assunto, utilizar-se sempre de fatos e dados que deem substancial suporte à sua argumentação relativa ao seu ponto de vista.
Sem isso, o que se fala ou se comenta sobre homeopatia é, e será sempre, um amontoado de meras suposições.
Sem mais delongas, vamos à história.
Por volta do século V/IV a.C., ainda na Grécia Antiga, a medicina sai de seu estado supersticioso e ganha espaço como Ciência e até como Arte, tendo por objeto de estudo primário a ideia de cura das doenças - surge a ideia de que a natureza pode curar. A pessoa que possibilitou tal fato foi Hipócrates de Cós, considerado atualmente o pai da medicina, tendo sido, inclusive, citado com admiração por Platão em alguns de seus diálogos.
Este homem teve tanta importância dentro da medicina, que ela pode ser divida em duas etapas: a pré-hipocrática e a pós-hipocrática. Algumas das suas principais teorias são a de que a causa das doenças (e possivelmente a cura delas) tem relação com o ar respirado e com resquícios da digestão e que o homem deve ser visto em plenitude, uma das fundamentações da homeopatia. Uma característica marcante de Hipócrates é que ele não atribuía à magia ou à religião a causa das enfermidades e ele tinha preferência por medicamentos naturais, além de, segundo relatos, ser extremamente honesto no trato de seus pacientes. Embora a homeopatia só tenha surgido muitos séculos após Hipócrates, é atribuída a ele, segundo algumas fontes, a teoria “Similia Similibus Curantum”, o principal cunho desta forma de tratamento.
No início do século XVI, à época do médico, alquimista e astrólogo suíço Phillipus Aureolus Theoperastus Bombastus von Hohenheim, mais conhecido por Paracelso, a teoria vigente sobre a causa das doenças dizia que estas se deviam a uma desregulação de fluidos corpóreos, tais como sangue, catarro, bile... Porém, Paracelso foi além disso: ele afirmou que saúde era um equilíbrio e doença um desequilíbrio de todas as energias presentes no ser humano, tanto no corpo físico, como no seu espírito.
Segundo ele, a cura se baseia em quatro bases distintas: filosofia, alquimia, astronomia e virtus. A primeira significa abrir-se às forças naturais, é uma “preparação própria” para a cura; a segunda é útil para o preparo dos medicamentos; a terceira explica a influência dos astros na saúde e nas enfermidades; a última é relacionada ao médico, o qual deve reconhecer a ação da natureza invisível no paciente ou como o remédio atua no plano visível. Além disso, ele reconheceu que a fé potencializa a imaginação e a mente: o desejo de melhorar de um paciente pode influenciar em sua cura. Algumas curas “milagrosas” atribuídas a ele podem não ter sido alcançadas somente pela ação dos medicamentos, mas estes serviram também para influenciar a ação da imaginação do paciente, de modo que ela agisse diretamente no seu desejo de ser curado.
Há na medicina, atualmente, o chamado placebo, uma substância sem qualquer efeito farmacológico, prescrita para levar o paciente a experimentar o alívio dos sintomas, só pelo fato de acreditar na eficácia terapêutica do “medicamento”. Depreende-se que, de certo modo, Paracelso já utilizava esse recurso há mais de meio milênio. Um outro fato interessante sobre suas ações é que ele associava as funções exteriores de uma planta a suas ações medicinais, por exemplo, uma folha em forma de coração seria indicada para resolver problemas cardíacos.
Já no final do século XVIII, Christian Friedrich Samuel Hahnemann, um médico e tradutor alemão, decepcionado com a medicina de sua época (chegando a caracterizá-la como precária e tosca), decide deixar de praticá-la em 1790, pouco mais de 10 anos após a defesa de sua tese, mas, para se sustentar, não abandona as traduções. Porém, dentro de suas traduções sobre medicina, com uma frequência sempre crescente explicitava seu desacordo com o autor. Em uma tradução de uma obra do escocês Cullen, ele descreve uma nota importante sobre a casca da quina (China officinalis), donde se extrai a quinina, eficaz antitérmico. Cullen afirmava que ela era eficaz contra a febre porque suas propriedades amargas, adstringentes e constipantes exerciam uma ação fortificante no estômago.
Hahnemann concordava que a quinina é um bom antitérmico, porém discordava da explicação de Cullen, dizendo: “A casca peruana (quinina), utilizada como medicamento para febre intermitente, funciona porque ela pode produzir, nos indivíduos sãos, sintomas semelhantes àqueles da febre intermitente”. Para afirmar isso, o próprio Hahnemann havia testado a quinina: “Tomei durante vários dias, duas vezes por dia, 4 dracmas de boa quinina. No começo, meus pés e as pontas de meus dedos se resfriaram. Fui ficando lento e sonolento. Depois, meu coração começou a palpitar, minha pulsação acelerou. Experimentei uma ansiedade insuportável e muitos tremores, mas sem sentir arrepios, além de cansaço nos membros. Em seguida, vieram as pulsações na cabeça, com a vermelhidão das bochechas e a sede; em suma, todos os sintomas que geralmente acompanham a febre intermitente [...]. Cada crise durava de duas a três horas e ocorria somente quando eu repetia a dose de quinina”.
Após isso, ele passou a fazer mais experimentações sistemáticas de substâncias em homens sãos, causando alguns sintomas de doenças, e percebeu que doses diluídas dessas substâncias aliviavam os mesmos sintomas em doentes. Dessa forma ele voltou à prática da medicina, desta vez homeopata (do grego: homoios – semelhante, e pathos – aquilo de que se sofre), chegando a largar as traduções para se concentrar em suas próprias obras, tais como “Fragmentos sobre os efeitos positivos dos medicamentos observados no homem são” (1805), Medicina da experiência (1806), Organon da arte de curar (1810, principal obra), Matéria Médica Pura (coletânea em seis volumes, 1811 – 1821), dentre tantas outras.
Assim, Hahnemann, aproveitando algumas ideias principalmente de Hipócrates e Paracelso, iniciou um novo ramo da medicina: a HOMEOPATIA.
Mais explicações e curiosidades serão feitas nos próximos posts.
Fontes:
http://www.similia.com.br/
http://www.spectrumgothic.com.br/ocultismo/personagens/paracelso.htm
http://www.homeopatiaveterinaria.com.br/homep.htm
http://greciantiga.org/
Posted by Leonardo
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