sexta-feira, 1 de julho de 2011

Abordagem homeopática para tratar infecções- parte II

A letal Atropa belladonna

Olá leitores! Este é o segundo post da série sobre a peculiar abordagem homeopática para o tratamento de infecções. Como mostrado no post anterior, o processo infeccioso foi o fator que levou ao crescimento, popularidade e relativa aceitação da homeopatia no mundo ocidental. De fato, seguindo-se os princípios fundamentais da farmacogênese homeopática, as condições infecciosas mostram-se como alvos adequados e potenciais para o tratamento por esta linha alternativa da medicina. Isso se deve ao fato de que o “sucesso” de uma doença infecciosa no corpo representa não apenas a devida entrada e prevalência do agente etiológico, mas também a falha do sistema imunológico do organismo hospedeiro em reverter os efeitos da infecção por meio da aniquilação ou inativação do invasor ou suas atividades. Como sabemos, os tratamentos homeopáticos visam justamente fortalecer o organismo, tratando a doença, mas também ensinando o corpo a manter sua força e repelir por si só a patogênese. Além disso, uma falha nos sistemas de defesa do organismo está frequentemente associada a uma debilidade holística do corpo, podendo ser provocada por reações psicossomáticas como o stress ou a exaustão, conseqüências de um determinado estilo de vida do paciente.

Assim como em todo tratamento homeopático, também se segue o princípio da similitude, e quanto maior ela for mais eficaz será a cura, segundo os homeopatas. Para compreender este processo mais a fundo, analisemos especificamente o princípio de ação de um fármaco homeopático frequentemente indicado para certos tipos de infecção, derivado de estratos herbáceos da angiosperma Atropa belladonna, conhecida popularmente por sua extrema toxicidade e letalidade.

Segundo os tomos de Materia Medica homeopática, a beladona é indicada para uma variedade de condições, dentre as quais os casos de infecção quando estes se manifestam com febre acompanhada de enrubescimento da pele e mucosas, com sentimentos de ondas de calor pelo corpo, além de sentidos excessivamente aguçados e sensibilidade a toque, luz, barulho ou emoções fortes. Há também delírios, alucinações e sonhos vívidos.

Diferentemente de um antibiótico alopático convencional, que concentraria sua ação na inativação ou morte dos agentes infecciosos, a aplicação de beladona homeopática visaria a simular em microdiluições os efeitos fisiopatológicos da doença, tal como descritos acima. Na verdade, os princípios ativos de Bella, presentes sobretudo na raiz e frutos da planta, são alcalóides tropânicos de ação anticolinérgica como atropina (Fig 1.1), escopolamina e hyosciamina. A atropina, por exemplo, diminui a atividade de músculos e glândulas reguladas pelo sistema nervoso parassimpático, tendo em vista sua ação como competidor antagonista a receptores muscarínicos de acetilcolina (neurotransmissor associado à atividade do sistema nervoso parassimpático) em células do sistema nervoso central e periférico (Fig 2). Uma das primeiras e mais evidentes conseqüências desta atividade bioquímica seria a dilatação da pupila, pois a contração do músculo esfíncter circular da pupila (mediada por acetilcolina) seria bloqueada, permitindo a ação do músculo dilatador da pupila. Logo, a pessoa em quem se administrasse doses consideráveis de atropina certamente teria mais sensibilidade e irritação na presença de luz. Além disso, a atropina diminuiria a ação do nervo vago, majoritariamente suprido por fibras parassimpáticas. Tal nervo tem a função de mediar o transporte de acetilcolina para o tecido cardíaco, controlando o ritmo do coração. Logo, a pessoa também apresentaria taquicardia, aumentando o quadro sintomatológico que assemelharia a intoxicação a uma infecção.

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Fig 1- Estrutura molecular da atropina.

Fig 2- Mecanismo normal de ação dos receptores de acetilcolina.

Estes são apenas dois exemplos de como uma droga que inibe a ação do sistema nervoso parassimpático leva a um quadro de prevalência de seu antagonista, o simpático, conhecido como o organizador dos estímulos de “lutar ou correr". Além das pupilas e taquicardia, a pessoa também sentiria náuseas, tontura, perda de equilíbrio, boca seca e mudanças da atividade vascular. Outra característica importante da atropina é que ela consegue atravessar a barreira hematoencefálica, potencialmente ocasionando alucinações, confusão mental e excitação, sintomas que se ajustam perfeitamente ao quadro fisiopatológico de algumas enfermidades infecciosas. Logo, aplicando-se o princípio da similitude homeopática, tem-se aí uma droga perfeitamente adequada para servir de matéria prima das drogas homeopáticas anti-infecciosas, muito embora os medicamentos manipulados de Bella possam nem ter probabilidades estatísticas de conter traços das moléculas ativas.

Posted by Vitor Paiva

Referencias:

http://www.naturalnews.com/023595_homeopathic_medicine_homeopathy.html

http://abchomeopathy.com/r.php/Bell

http://blog.hmedicine.com/homeopathy-and-homeopathic-medicine-blog/bid/4592/Homeopathic-medicine-Belladonna

http://blog.hmedicine.com/homeopathy-and-homeopathic-medicine-blog/bid/4592/Homeopathic-medicine-Belladonna

http://en.wikipedia.org/wiki/Atropa_belladonna


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