quinta-feira, 9 de junho de 2011

Tratamento homeopático para depressão



Diversos posts publicados até esse momento mostraram os princípios fundamentais da síntese de fármacos homeopáticos, processo que recebe boa parte das críticas e ceticismo quanto à homeopatia. A altíssima diluição dos princípios ativos (de tal forma que não possa haver efeito fisiológico observável) e a explicação paradoxal de que, mesmo havendo probabilidades ínfimas de moléculas ativas remanescentes, o solvente adquire a “essência ativa” do fármaco por meio das dinamizações sucessivas leva à descrença na farmacologia homeopática. Mesmo assim, é de interesse investigar os mecanismos de ação primordial dos princípios ativos empregados, muitas vezes advindos de agentes fitoterápicos ou minerais, por exemplo. Já sabemos que a terapia homeopática visa a estimular a auto-reabilitação do corpo utilizando compostos que causariam os sintomas patológicos em pessoas saudáveis - uma técnica que lembra a imunização com vacinas. Mas como exatamente estes agentes geram tais efeitos em pessoas saudáveis, validando seu uso como fármaco no quadro da práxis homeopática?

Tomemos como exemplo uma condição muito procurada para tratamento homeopático: a depressão. Trata-se de um mal com causas e repercussões holísticas no organismo e é, portanto, algo que um homeopata certamente gostaria de diagnosticar e tratar. Nos quadros de seu entendimento em farmacologia e observação dos múltiplos sintomas tanto fisiológicos quanto psíquicos da depressão do paciente, o homeopata pode prescrever uma série de medicamentos, dentre os quais cita-se:




-- Ignatia Amara: É o princípio ativo da Strychnos ignatia, uma angiosperma da família Loganiaceae nativa das Filipinas e partes da China. É indicada para aqueles que apresentaram reações depressivas ao tentar suprimir sentimentos de dor ou desespero ou que apresentaram crises de histeria emocional.





-- Aurum Metallicum: nome homeopático para remédios cunhados à base de ouro, geralmente indicados para depressões alavancadas por um senso de responsabilidade excessiva, comum em “whorkaholics” (viciados em trabalho), pessoas altamente sensíveis a sentimentos de derrota na vida profissional ou particular.

-- Lachesis Muta: Remédio homeopático cunhado a base de veneno ofídico, alegadamente eficaz contra sentimentos depressivos causados por repressão, inveja ou suspeita. Utilizado também em quadros depressivos acarretados pela menopausa.

-- Sepia: Remédio cunhado a base de tinturas de moluscos, utilizado sobretudo para pessoas ansiosas ou irritadas com responsabilidades familiares. Também indicado para depressão pós-natal, perda de libido e menopausa.

-- Pulsatilla nigricans: Alegadamente eficaz para pessoas com quadros depressivos e sentimentos infantis. Tais pacientes costumam chorar compulsivamente e gostam de consolação e suporte alheio.

Como se percebe, a estratégia medicamentosa homeopática passa necessariamente pela anamnese emocional do paciente. Mas, como nosso objetivo é mostrar o mecanismo bioquímico desses agentes, lancemos um olhar mais aprofundado ao caso da Ignatia Amara. Como mostrado, tal agente é obtido a partir de estratos herbáceos da Strychnos ignatia, cujas sementes possuem doses consideráveis de alcalóides potentes e tóxicos, como estricnina e brucina. Uma curiosidade da estricnina, coincidentemente ligada a seu uso homeopático, é que esta é uma das substâncias mais amargas conhecidas, cujo gosto pode ser percebido em concentrações de até 1 ppm (parte por milhão)!


A estricnina é um alcalóide cristalino altamente tóxico, utilizado como pesticida. Quando ingerida, inalada ou injetada é rapidamente absorvida pelo corpo, seja pelo trato gastrointestinal ou outras mucosas, e ao chegar à corrente sanguínea passa a se distribuir rapidamente em tecidos em virtude da fraca ligação que a liga às moléculas transportadoras. Se administrado em altas doses, este alcalóide é verdadeiramente um veneno, gerando uma das respostas fisiológicas mais violentas e dolorosas descritas pela Toxicologia. Sua ação se desenvolve sobretudo em sinapses de nervos motores localizadas na medula espinal, influenciando na dinâmica de neurotransmissores que aderem aos receptores de membrana nas regiões de sinapse nervosa. Na neurofisiologia normal, há uma série de neuroinibidores, como a glicina, que atuam gerando uma necessidade de mais neurotransmissores que devem passar pela região sináptica e aderir a seus receptores com a finalidade de criar potencial de ação. Tal inibição é de suma importância para a regulação da dinâmica nervosa. A estricnina é justamente um antagonista da glicina, que se liga ao mesmo receptor de membrana da última, inutilizando-a. A partir daí, menos neurotransmissores serão necessários para que gerar o potencial de ação, o que acarreta um estímulo contínuo e contrações musculares generalizadas, violentas e constantes. Como praticamente todos os músculos do corpo são afetados, a pessoa sofre dores intensas e geralmente morre por asfixia em função da desregulação de contrações diafragmáticas.

Logo, percebe-se que, tomando como correto o princípio homeopático de tratar uma patologia com aquilo que a causaria, o uso de estricnina poderia ser eficaz contra certos sintomas ou causas de depressão. Os homeopatas interpretam os efeitos da estricnina como análogos ao de uma histeria compulsiva, dor intensa (tanto física quanto emocional), profunda angústia e desespero. Portanto, a administração do alcalóide mostraria ao corpo como se defender de seus efeitos, estimulando a capacidade de cura intrínseca.

Embora tal princípio farmacológico pareça irreal ou até mesmo aterrorizante quando consideramos o uso de estricnina em medicamentos, uma coisa é certa: ainda bem que as diluições são altíssimas e teoricamente haveria muito pouca ou mesmo nenhuma molécula deste veneno no remédio!

Referências Bibliográficas:http://beneforce.com/informationfaq/homeopathic/ignatia.htm

http://www.netdoctor.co.uk/diseases/depression/homeopathy_000066.htm

http://en.wikipedia.org/wiki/Strychnine

Posted by Vitor Paiva

Um comentário:

  1. Bom dia,

    Todos sabemos das diversas ações e campanhas contra a Homeopatia (http://www.1023.org.uk/), por isso decidimos criar uma campanha na qual pacientes e médicos pudessem contar as suas experiências com esses tratamentos, pois "contra fatos não existem argumentos". Nos ajude a divulgar a campanha e envie o seu depoimento no site www.campanhacreditenavida.com.br

    Abraços!

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